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"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos." Fernando Pessoa

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Play - Interrogatório - Parte III



Lá em cima, eu não me lembro da seqüência dos fatos, mas lembro de ouvir sons vindos d@s outr@s subs ali, (os quais eu não tinha idéia de onde ou como estavam) às vezes alguns deles apanhavam, outr@s pediam para tirar sapatos, ou coisas assim. Eu ouvia os risos e conversas d@s três Dominadores (a) e ficava curiosa com o que estaria acontecendo a minha volta e ao mesmo tempo feliz que eles (a) estivessem se divertindo.

Do que fizeram comigo me marcou algumas coisas que desejo compartilhar.
O tema do interrogatório era focado no fato de eu ser feminista, os Doms me provocaram com isso e no inicio, num momento de um pouco de irritação, esqueci de acrescentar Senhor depois de um sim (ou não, não lembro bem o contexto do momento) o que me rendeu um castigo. Eu iria apanhar e contar cada chicotada acrescentando no final a palavra Koothrappali (eu pretendo fazer física e sou viciada em The Big Bang Theory algo que quem me dominava tinha conhecimento), o que me marcou foi o fato de que eu ri, não me controlei quando lembrei do personagem da série, e me senti culpada por não ter tido auto controle, a brincadeira não era para me divertir e sim a eles, depois disso fiquei mais atenta para não repeti-lo. 
          
Bem além de tudo isso, os dois que me dominavam estavam realmente a fim de explorar meus medos.
Tenho medo de asfixia, trauma de choque e claustrofobia. O primeiro, eu recebi com muita relutância e percebi que só aumentou meu prazer.


Quanto ao segundo, foi colocada em minha cabeça uma máscara, como não podia ver achei que fosse um saco, me senti presa e todos os sintomas de ataque de pânico começaram a se desenvolver. Eu chorava compulsivamente, mas como continuei a apanhar era um misto de pânico e prazer (naquele momento a dor não era mais dor) muito estranho.
E com relação ao terceiro, lembro quando um dos Dominadores se aproximou de mim com a raquete (aquelas de matar mosquito que dá choque), ele a colocou na minha frente e me mandou encostar o dedo. Minha mão tremia e parece que agia por vontade própria quando tentava recuar. Então do nada veio na minha mente que ele queria aquilo então eu tinha que fazer, fiz chorando e me senti uma criança quando não doeu de verdade, não me fez nada ruim de fato.

Outra coisa que me marcou foi a colher de pau. Num determinado momento um dos Dominadores me perguntou se eu queria garfo ou colher, lenta como sou não entendi o porquê da pergunta e a única coisa que veio na minha mente foi que garfo tem ponta, então no automático escolhi colher. Ouvi algum deles dizer que fui esperta na escolha e me acalmei, de fato nem senti a primeira batida, até que o Dominador disse que eu não tinha sido tão esperta assim e surgiu a colher de pau.
Aquilo doía, e era gostoso, teve uma hora que o Dom bateu tantas vezes no mesmo lugar, porque o som não tinha saído legal, que senti muita dor, mas ficava mais molhada a cada momento. Acho que ali descobri um prazer libertador, me sentia relaxada, em êxtase a cada tapa ou batida, foi uma das melhores sensações que já tive.


Bem, esta parte (tudo na verdade, mas essa em especial) foi uma experiência única que nunca esquecerei, foi um momento de redescoberta e reconstrução de “verdades” internas que me fez crescer. Por isso, agradeço imensamente aos Dominadores que me proporcionaram tanto, desenvolvi um respeito, carinho e confiança gigantesco pelos Senhores.

        Continua em um próximo post!

Play - Preparação - Parte II




(Antes de começar o relato em si, gostaria de dizer que é também um desabafo, tentei expressar o que eu sentia ao longo da noite e por isso está confuso em alguns momentos, assim como eu estava confusa com meus sentimentos. Escrevi meio em "brain storm" então peço desculpas pelos erros gramaticais).

Do momento em que desci do carro até a hora em que sentamos na sala para que @s Dominadores (a) explicassem as regras, fui conhecendo as pessoas e formando novas amizades. Conversamos sobre os mais diversos temas, e com cada minuto me encantava mais com aquelas pessoas inteligentes, legais e interessantes. Acho que para mim, a intimidade e a confiança, que necessitei mais tarde, foram se construindo ao longo daquele dia.

À noite, sentamos tod@s @s subs em um colchão no chão da sala enquanto @s dominadores (as) falavam, meio que foi ali que caiu minha ficha do que estava por vir. Ao ouvir que a partir daquele momento eu não poderia fazer mais nada (inclusive falar ou ir ao banheiro) sem permissão, o pânico começou a surgir e comecei a me questionar se de fato conseguiria passar por aquilo.
        Naquele momento eu já conhecia melhor e confiava em um d@s três Dominadores (as), mas @s outr@s dois ainda me assustavam e sinceramente tive um pouco de vontade de sair correndo. Passaram nossa palavra de segurança, e eu por mais que não parasse de pensar nelas, não conseguia gravar (provavelmente porque minha mente já estava paralisada pelo medo), fui ficando ainda mais apreensiva.
Foi quando percebi que estava com fome (por ansiedade não tinha sentido vontade de comer ao longo do dia), fiz um lanche de pé extremamente rápido na cozinha (não conseguia nem sequer sentir o gosto daquilo que ingeria) e fui para o quarto me arrumar. Fiz tudo no automático, lembro que conversei com as meninas, mas no dia seguinte nem sequer me lembrava o que tinha contado (medo me faz falar sem parar).

Depois de pront@s, ficamos @s subs não cozinha de pé a espera da próxima ordem. Estávamos em círculo, todos quietos. Na minha mente passava sobre o que nos esperava lá em cima (@s Dominadores (as) tinham passado o dia arrumando para a play, e nós não tínhamos idéia de como estava). Um dos submissos iria chegar atrasado então ficamos ali esperando por ele. Quando chegou lhe foi permitido um banho de cinco minutos, que nós, @s outr@s subs computamos.
@s Dominadores (a) então nos fizeram arrumar as pontas da corda que foi usada para amarrar nossas mãos. Bem, nunca tive habilidades manuais, e não conseguir cumprir aquilo foi me deixando mais nervosa, não gosto de falhar. Depois fomos vendados e a partir dali não sei quanto tempo esperamos. Eu cheguei à conclusão que precisava me acalmar então comecei a passar mentalmente passos de dança para me distrair, o que funcionou (mas me pareceu muito errado depois).
O inicio da play seria um interrogatório pelos dois Dominadores comigo, fui levada então para um quarto escuro onde fiquei sentada a espera do que viria. Nesse tempo acredito que subiram @s outr@s subs. De vez em quando um dos Dominadores vinha ao quarto para me botar medo, uma tortura psicológica. Eu tenho problema com espaços fechados e mais uma vez para superar meu medo tentei distrair minha mente cantando quando ficava sozinha. Naquele momento ainda não tinha experiência com a dor, e sabia que iria apanhar, por medo preferia abstrair.
Na ultima vez que os Dominadores entraram, eles aproximaram fogo de mim. Como não podia ver, só ouvia o barulho e sentia o calor, a principio, eu senti muito medo, mas ao mesmo tempo estava muito animada. Foi quando comecei a apanhar, doeu muito, acho que porque estava começando.


Tentei lembrar a palavra de segurança, mas essa há algum tempo já tinha saído da minha mente. Nesse momento meus truques para me acalmar já não funcionavam. Mas ao mesmo tempo que estava desesperada e querendo fugir, comecei a sentir o oposto. Comecei a perceber que confiava (na verdade a cada momento um pouco mais) nos dois Senhores, e assim meu medo foi se transformando em apenas excitação.
E o que mais me impressionou, foi que algo novo surgiu em mim, por mais excitada que estivesse e por mais que tivesse ido ali para explorar meus limites, essas coisas eram as últimas que passavam pela minha mente. Tudo o que eu queria era agradar quem me dominava, queria que tivessem prazer, que a cena que montaram funcionasse como eles queriam, e meus medos perto desse desejo eram pequenos. Acho que ali percebi que para fazer aquele momento bom para eles eu agüentaria o que viesse.

Continua em um próximo post!

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Conhecê-L@...Medos

  


   Hoje deixo aqui um desabafo.
   Cada vez mais percebo como é difícil o caminho que trilho para encontrar e explorar minha submissão.
   Normalmente falamos de quando estamos com Don@ e as dificuldades e superações no se submeter a el@.
   Mas aqui deixo minhas aflições sobre a etapa anterior: o conhecer aquel@ a quem se pretende um dia servir.
   Não tinha reparado antes como cada conversa com Ele é um teste, uma prova de como me porto.
   Aflijo-me por ter medo de falar demais, ou medo de falar de menos. Tenho medo de não demonstrar interesse e medo de ser atirada. Tenho medo de sem perceber me folgar pela intimidade que vai se construindo quando vai se desenvolvendo uma amizade. E percebo com esses meus medos, quase juvenis, que estou sempre aprendendo. Sinto-me humilhada ao constatar que não sei nada e que preciso ser guiada. 
   Em fim, percebo que minha submissão é testada sempre. E eu desejo de verdade acertar, em partes porque sou perfeccionista, mas principalmente porque o que me move, e move minha submissão, é o desejo de agradá-lo, de ser uma boa serva, é por isso que toda essa nóia que escrevi acima se manifesta.
   De verdade espero estar acertando e espero aprender e não repetir cada vez que errar. Quero ser digna de servi-lo algum dia.    

terça-feira, 26 de abril de 2011

Play - Ida - Parte I




Recentemente participei de um play em Floripa, aqui vou repassar minhas impressões de algumas partes em alguns posts.

A IDA
Acordei de mau humor, não para menos depois de uma noite sem dormir a espera da viagem. Eu sabia que iria conhecer pessoalmente varias pessoas que já vinha conversando na internet, mas o principal, eu estava indo para me descobrir, queria novas sensações queria ultrapassar meus limites, já tinha uma idéia de que eu iria apanhar um pouco e bem, naquele momento eu realmente achava que dor não me estimulava. Acho que todo meu trajeto até o momento do play em si, foi uma preparação psicológica para o que iria vir. Ter mente aberta e querer provar tudo muitas vezes é bem diferente do que agüentar na prática, eu temia que esse pudesse ser meu caso.
Tendo passado a noite em claro, capotei no ônibus e na parada em Joinville comecei a procurá-la, (uma das subs, que mora em Joinville, iria até Jaraguá como eu para seguir de carona), como achar alguém da qual não se tem idéia da aparência?, não preciso dizer que não se acha.
Descendo em Jaraguá, naquele momento muito mais calma, fui fumar meu cigarro e esperar minha carona, percebi que uma garota ruiva que tinha vindo no ônibus comigo também estava esperando do meu lado e naquele momento apenas nós duas do ônibus do qual viemos estávamos esperando, comecei a suspeitar que pudesse ser ela quem eu deveria encontrar. Mas como sempre a timidez foi mais forte, encarei discretamente a garota tentando achar algum sinal, claro virando disfarçadamente o rosto quando ela olhava na minha direção. Até que depois de uns 20 minutos de espera e alguns cigarros, ela telefonou, apurei minha audição em busca de alguma informação, ouvi meu nome, quando ela disse que eu não tinha chegado prontamente me apresentei, foi divertido e rimos muito da situação.  

Quando a segunda garota chegou para nos buscar prosseguimos viagem para Floripa, conversamos muito e nos demos muito bem, com o pé de chumbo da P chegamos a tempo recorde, se não fosse pelo fato de que nenhuma das três míopes conseguia enxergar placas e nenhuma se pronunciou sobre o fato, não teríamos quase chegado à próxima cidade e atrasado um pouco. Depois de um tempo perdidas, (tempo para se localizar) a A colocou os óculos e conseguimos chegar ao local combinado, à rodoviária. Lá descemos, cumprimentamos o Sr J, e o seguimos a velocidade de tartaruga para a casa onde ficaríamos.  
Continuo no próximo post!!!!

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Morocha

 

Resolvi hoje postar uma música que fez parte da minha infância.
É uma canção gaúcha premiada na califórnia de seu ano, mas que recebeu grande polêmica por ser considerada machista.
Inclusive o cantor e compositor Leonardo fez a réplica em que no refrão se cantava: "morocha não, respeito sim, mulher é tudo vida e amor, quem não gostar que fique assim, grosso machista e barranqueador"
Ambas versões foram sucesso e deram o que falar no rio grande.

Eu penso que a música como um retrato da mentalidade do peão de fato, criado na lida é riquissima de fator cultural e por isso sempre a adorei (além do ritmo e voz serem incríveis)

Mas enquanto submissa, adoro ser tratada como uma égua, ser montada, usada, ter meus cabelos puxados.. o tratamento duro é excitante, estimulante e maravilhoso.







MOROCHA
de Davi Menezes Jr

Não vem morocha, te floreando toda
Que eu não sou manso e esparramo as garras
Nasci no inferno, me criei no mato
E só carrapato, é que em mim se agarra


Tu te aprochegas, reboleando os quarto
Trocando orelha, meu instinto rincha
E eu já me paro, todo embodocado
Que nem matungo, quando aperta a cincha

Aprendi a domar amanunciando égua
E para as mulher vale as mesmas regras

Animal, te para sou lá do rincão
Mulher pra mim é como redomão
Maneador nas patas e pelego na cara


Crinuda velha, não escolha o lado
Nos meus arreios não há quem peliche
Tu inchas o lombo, te encaroço a laço
Boto os cachorros e por mim que abiche


Não te boleias que o cabresto é forte
O palanque é grosso senta e te arrepende
Sou carinhoso, mas incompreendido
E pra o teu bem, vê se tu me entendes


sábado, 16 de abril de 2011

Sentidos




Escuro
Silêncio
Medo
Antecipação
Nada é certo, nada é previsto
Um tapa,
Um grito
Dor, prazer
Prazer, dor
Já não mais se diferenciam
Som
Gotas
Lágrimas, suor, sangue
Tudo um só na ausência de luz
Passos
Cada vez mais intenso
Incrível como a escuridão afina a audição
Medo
Talvez ansiedade
Um armário se abre
Objetos retirados
Um único tapa no pé
E o pulo que as cordas impedem
Outro pé
Lágrimas retornam
Um emaranhado de cores escorre pelo rosto
Vara, chicote, palmatória
Pés, bunda, costas
Em meio a sangue, lágrimas e prazer
O tempo se perde
Silêncio
Cordas retiradas
Joelhos ao chão
Beijos na bota em agradecimento
Não há amor maior
Que na entrega
E na humilhação

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Mulheres de Atenas




Então, hoje resolvi postar uma música que sempre foi uma de minhas favoritas, mas que de uns tempos para cá comecei a gostar ainda mais. Com certeza o objetivo dos autores era se valer de uma ironia o que a torna um símbolo contra o machismo...  Mas se tirarmos a crítica existente, não olharmos a ironia e simplesmente ver a letra, ouvi-la e pensar como uma escolha de vida... Acho bela a maneira como se descreve uma submissão e entrega tão plena. Tendo as duas leituras em mente, penso que “Mulheres de Atenas” apenas se engrandece e que vale a pena ser apreciada.






 
Mulheres de Atenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Vivem pros seus maridos, orgulho e raça de Atenas
Quando amadas, se perfumam
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas
Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem, imploram
Mais duras penas
Cadenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Sofrem por seus maridos, poder e força de Atenas
Quando eles embarcam, soldados
Elas tecem longos bordados
Mil quarentenas
E quando eles voltam sedentos
Querem arrancar violentos
Carícias plenas
Obscenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Despem-se pros maridos, bravos guerreiros de Atenas
Quando eles se entopem de vinho
Costumam buscar o carinho
De outras falenas
Mas no fim da noite, aos pedaços
Quase sempre voltam pros braços
De suas pequenas
Helenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Geram pros seus maridos os novos filhos de Atenas
Elas não têm gosto ou vontade
Nem defeito nem qualidade
Têm medo apenas
Não têm sonhos, só têm presságios
O seu homem, mares, naufrágios
Lindas sirenas
Morenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Temem pro seus maridos, heróis e amantes de Atenas
As jovens viúvas marcadas
E as gestantes abandonadas
Não fazem cenas
Vestem-se de negro se encolhem
Se confortam e se recolhem
Às suas novenas
Serenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Secam por seus maridos, orgulho e raça de Atenas.

BUARQUE, Chico, BOAL, Augusto. In: Chico Buarque – letra e música. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. p. 144.




terça-feira, 12 de abril de 2011

Gênero e BDSM





Puxei esse tópico porque esse foi um tema que muito me afligiu quando entrei no meio. Sou militante feminista e acadêmica de gênero (mesmo que afastada no momento) e admitir (para mim e para os outros) minha necessidade de ser dominada por um homem foi extremamente difícil.
Sobre mim, me perguntava, como posso vendo toda a luta que foi a emancipação feminina desejar que um homem mande em mim? Com relação os outros, indagava não seria hipocrisia minha levantar bandeira de direitos iguais e na minha vida pessoal anulá-los?
Antes de expor mais sobre o tema em questão e minhas duas perguntas acho importante esclarecer alguns conceitos sobre a questão de gênero.
Gênero é uma construção social de personalidade e funcionalidade construído a partir de um dado biológico de base. Quando questionamos o machismo reinante em nossa sociedade, acima de tudo questionamos a falta de oportunidade ofertada para que seres humanos como um todo possa desenvolver suas potencialidades quando contrastadas com a expectativa de gênero. Aqui entendemos essas potencialidades como muito mais do que apenas as habilidades profissionais para a esfera publica (exemplo: homem bailarino e mulher mecânica), mas também sua própria personalidade (mulher ser delicada, frágil, trabalhar em rede, enquanto homem ser racional, trabalhar na vertical, ser duro). Compreendemos que tais habilidades e características pessoais são também uma construção social, ou seja, são desenvolvidas pela maneira como somos criados. Assim a forma diferenciada por gênero para a criação consiste em ultima instância na primeira barreira de gênero para oportunidades.


O segundo conceito, é que no caso da nossa sociedade o papel relegado ao gênero feminino, ainda é considerado inferior (trabalho na esfera privada sem valor econômico), o que gera uma segunda opressão, essa direcionada diretamente a mulher. Dentre varias bandeiras levantadas pelo movimento feminista que decorre dessa realidade supracitada, uma luta que aqui me interessa lembrar é a da emancipação sexual. Uma das formas de controlar a mulher é controlando seu corpo, o que foi necessário para fins de garantia hereditária. Mas mesmo pensando na sociedade atual isso ainda é muito presente (exemplo: ser vergonhoso para mulheres admitir masturbação). A falta de conhecimento sobre nosso corpo e nossa sexualidade é um dos grilhões a serem quebrados.
Voltando para o BDSM, sobre a segunda pergunta eu me fiz, a conclusão que cheguei é a de que: no momento em que uma mulher se submete por escolha e determina os limites dessa submissão, de alguma forma ela mantém seu poder na relação, e o principal, não lhe é retirado qualquer forma de escolha ou oportunidade. Inclusive, dentro dessa ótica, a menos que seja com o consentimento da mulher, o machismo não se cria, pois tudo tem um limite imposto pela submissa.
Tais conclusões acima exposta me mostraram que o BDSM é uma maneira consensual de se relacionar, onde se dividem direitos e obrigações de acordo com aquilo que satisfaz a ambos (um submisso se satisfaz em servir), sendo na verdade em termos de gênero extremamente avançada, afinal o submisso pode ser homem também. No BDSM não é uma questão de gênero a submissão, mas sim de desejo e necessidade do ser que se submete.


Por fim, percebo que conhecer sua sexualidade e libertar seu corpo para ela, é aceitar que essa sexualidade descoberta pode ser no BDSM e nesse caso, ao me submeter alcanço minha emancipação sexual.
Dito isso afirmo hoje com toda convicção que BDSM em si não reforça ou defende o machismo e que como modelo de relação é extremamente avançado. Se hoje vemos machismo no meio é porque as pessoas (homens e mulheres, porque se as mulheres não respaldassem não se criavam) que fazem parte mantêm esse pensamento arcaico. O que pelo menos para mim respondeu minha segunda pergunta.
Quanto à primeira pergunta feita, o que posso dizer, é que não tenho a resposta. Talvez seja um machismo interno que existe em mim, que mesmo minha racionalidade não conseguiu expulsar e que me impulsiona a desejar isso. Ou pode ser apenas estimulo físico. Não tenho como responder, mas uma coisa que aprendi nesse mundo sem sentido é que manter convicções é às vezes cair em contradições. Não podemos evitá-las, apenas aceita-las e minimizá-las.
 Assim me aceito enquanto submissa. Não questiono a origem de tal desejo, mas sei que com ele existente, minha única forma de manter a coerência e ser feliz é abraçando esta escolha de vida na qual me realizo afetivamente e sexualmente.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Saiamos do armário!!!!


Faz um tempo tenho observado um fenômeno que me deixou intrigada, desde então comecei a tentar compreendê-lo melhor e hoje decidi compartilhar minhas impressões.
O que observei é a quantidade imensa de BDSMistas que possuem vida dupla (casamento, namoro, noivado, fechado e baunilha). A princípio me assustou, mas daí, eu percebi que não apenas é natural e aceito no meio, mas é quase uma doutrina de como viver. Nesse momento meu susto se tornou decepção e curiosidade.
Como sempre a curiosidade venceu e cheguei a algumas conclusões. Vejo que isso parte dos homens (Doms), e dentro disso enxergo um conjunto de fatores que os leva a isso.

Primeiro motivo: “posso ter amante sem considerar assim”. Quantos me disseram que sou casado, mas sou contra traição. Meu amigo, se tua mulher não sabe da tua vida paralela é traição, não importa que a forma de viver o relacionamento seja diferente no BDSM, BDSM ainda é uma forma de relacionamento afetivo-sexual entre duas ou mais pessoas, sendo assim a sub nesse caso é amante.
Segundo motivo: machismo (em breve tópico específico para isso). Por mais que queiramos ser vistos de maneira diferente e dizemos que pensamos diferente dos baunilhas, somos criados pela mesma sociedade e muitos querem a “puta” para usar e a garota ideal (baunilha) para casar.
Terceiro motivo: está ligado ao segundo, preconceito consigo mesmo, e aqui vejo o verdadeiro problema, é meio como eu aceito que tenho necessidades afetivas-sexuais diferentes, mas só entre quatro paredes, e para manter assim mantenho um casamento baunilha insatisfeito e vivo a vida que deveria ser minha como algo sujo e escondido. Criticamos muito os baunilhas por não nos aceitar, nos rotular de doentes, mas na minha forma de ver ao pregar a doutrina do viva em segredo reafirmamos o mesmo preconceito. Meio que me lembra a situação no inicio do movimento gay de homens casados com mulheres que precisavam viver sua verdadeira sexualidade escondido (ainda acontece, digo porque era bem comum).

Por fim vejo que isso nos leva a um ciclo vicioso quando observamos as subs. Como uma reação ao cenário acima descrito, as subs acabam buscando também relacionamentos baunilhas como forma de proteção psicológica (o que vai de encontro com o conceito de entrega, assim como no caso do Dom com o conceito de estilo de vida).
Em fim criamos uma forma viciada e contraditória de viver por medo e preconceito, e por isso afirmo aqui a minha indignação e apelo.... saiamos do armário!!!!

Bem vind@!!!



Apesar da minha preguiça em gerenciar um blog, senti a necessidade de expor meu ponto de vista sobre vários temas que tenho me deparado desde que comecei a conhecer o meio.
Faz um mês que decide buscar conhecer, aprender e viver BDSM deixando de tê-lo apenas como uma fantasia distante. Sou bem nova e em constante aprendizado, mas apesar disso, percebo que algumas características intrínsecas a qualquer grupo social formado por um acordo de idéias, sonhos, crenças, desejos ou ações está também presente dentro do meio BDSM e com relação a grupos assim tenho uma vivência um pouco maior.
Falo da questão dos grupos porque apesar de termos uma escolha de forma de vida que nos une, temos divergências em questões menores dentro dessa forma de vida em forma ampla.
É sobre minhas visões temporárias sobre essas divergências que pretendo escrever nesse blog.
Amo uma polêmica kkk (quando acrescenta conhecimento).
Desde já peço desculpas se em algum momento alguém se sentir ofendid@ por algo que expus, peço que tentem ver como generalizações e não se sentir pessoalmente ofendid@, afinal cada regra tem exceções (mas não é discutindo a exceção que podemos definir e redefinir... conceitos gerais).
Dito isso, sinta-se a vontade para expor sua opinião e trocar idéias. O conhecimento, seu livre acesso bem como sua troca nos liberta.